A bacia Amazônica concentra a maior biodiversidade de água doce do planeta, em especial para a ictiofauna com cerca de 2,400 espécies válidas reconhecidas pela ciência, o que representa cerca de 15% de toda biodiversidade de peixes descritas no mundo. Os processos que tem gerado essa incrível diversidade de peixes ainda não são completamente compreendidos pela ciência. No entanto, a diversidade e estabilidade de habitats aquáticos em condições climáticas favoráveis podem ter sido parte do processo que favoreceu altas taxas de especiação e baixas taxas de extinção, promovendo os altos valores de diversidade atual.
Há uma crescente evidência, desde o último século, de que a estrutura e o funcionamento dos ecossistemas aquáticos da Amazônia vem sofrendo impactos pela rápida expansão da infraestrutura e atividades econômicas e as mudanças climáticas provavelmente amplificarão esses distúrbios, prometendo impactos negativos e profundos na ictiofauna Amazônica.
Amazon Fish é um projeto colaborativo transnacional que iniciou em Novembro de 2015 e será desenvolvido por um período de três anos. O AMAZON FISH é financiado pelo ERANetLac, um parceiro regional na ciência, tecnologia e inovação, envolvendo a União Européia (EU) e a Comunidade dos estados da América Latina e Caribe (CELAC).
AMAZON FISH visa construir uma base de dados de alta qualidade sobre a biodiversidade de peixes de água doce que cubra toda a bacia Amazônica. Isso tem sido feito pela mobilização e integração da informação disponível em literatura cinzenta. Um plano de gestão dos dados está sendo desenvolvido para garantir condições de reutilização e divulgação pública da base de dados resultante do projeto que está sendo devidamente documentada, levando em consideração preocupações e necessidades dos diferentes parceiros do projeto.
Durante o projeto, hiatos de amostragem serão identificados e expedições à campo serão organizadas para preenchê-los e conseguir a mais atualizada e abrangente cobertura de dados.
Um Sistema de Informações Geográficas (SIG, da sigla em inglês) incluindo os fatores ambientais mais representativos para explicar a distribuição das espécies está acoplado à base de dados. Análises biogeográficas para a bacia serão realizadas em unidades espaciais de diferentes tamanhos (grãos) utilizando riqueza de espécies, endemismos e descritores de diversidade beta. As análises permitirão definir os níveis de substituição e representatividade de diferentes comunidades (i.e. “hotspots”). Projeções climáticas futuras para os quatro cenários dos anos de 2050 e 2080 serão derivadas das versões mais atualizadas dos Modelos de Circulação Geral (General Circulation Models - GCMs, da sigla em inglês) para avaliar suas consequências na amplitude de distribuição e extinção de espécies. Espera-se que os resultados também ajudem a definir áreas de trabalho relevantes para a "Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos» (IPBES, da sigla em inglês), a nível local, nacional e regional.
O consórcio AMAZON FISH compreende instituições com ampla experiência e reconhecimento internacional, competências e interesses complementares e objetivos estratégicos no domínio da biodiversidade de peixes amazônicos. Nesse momento, o consórcio incluí pesquisadores do Institut de Recherche pour le Développement (IRD) na França, da Pontificia Universidad Javeriana, Unidad de Ecología y Sistemática (UNESIS) na Colombia, do Departamento de Ictiología, Museo de Historia Natural, Universidad Nacional Mayor de San Marcos no Peru e do Royal Belgian Institute of Natural Sciences (RBINS). O consórcio também se beneficia de colaborações oficiais de outras instituições nacionais do Brasil (i.e. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/INPA, Universidade Federal de São Paulo/UNIFESP, Universidade Federal do Amazonas/UFAM e Universidade Federal do Pará/UFPA, Equador (i.e. Museo Ecuatoriano de Ciencias Naturales/MECN e Bolivia (i.e. Universidad Mayor de San Simon; Universidad Mayor de San Andres; Universidad Autónoma del Beni). Todos esses parceiros trazem para o projeto as bases de dados existentes sobre a biodiversidade de peixes e uma grande capacidade de trabalho em rede que será essencialmente importante para identificar e envolver outros potenciais provedores de dados.